Uma das ideias-chave é que o mercado da arte com IA ainda não é sólido, mas há mais artistas que a usam para irem a leilão.
A diferença geracional é significativa, com os mais jovens a acreditar que as obras geradas com IA vão valorizar fortemente.
Nos últimos três anos, 7% dos jovens colecionadores já compraram arte gerada por IA
Numa altura em que a Inteligência Artificial (IA) é um tema incontornável na sociedade atual e também no mercado da arte, a Hiscox, seguradora especializada em arte, decidiu analisar o impacto que a IA tem no mercado da arte e na perceção dos compradores e amantes de arte e apresentou recentemente o resultado do estudo “ART AND AI REPORT 2024. What is the future for producing and collecting AI-generated art?”
Entre abril e junho de 2024, a Hiscox realizou dois estudos para captar o sentimento e a perceção atuais da arte gerada por IA entre colecionadores e entusiastas da arte, um público mais abrangente, com interesse. O objetivo de sondar estes dois grupos foi receber informações sobre a forma como a arte gerada por IA é percebida enquanto objeto de coleção.
As conclusões são interessantes. Não surpreendentemente, os colecionadores mais jovens são quem revela mais interesse e maior apetência para abraçar as obras geradas por IA, apesar da pouca regulamentação ainda existente no mercado da arte para proteger a integridade destas obras (questões como a transparência, a compensação e a avaliação, por exemplo).
Há espaço para obras de arte produzidas por artistas e geradas por Inteligência Artificial coexistirem em harmonia? Essa é outra questão relevante desta temática. O estudo conclui que o mercado da arte com IA ainda não é sólido, mas há mais artistas que a usam a irem a leilão. A venda de Edmond de Belamy pelo coletivo parisiense Obvious em 2018 marcou um momento crucial na evolução do mercado da arte gerada por IA, alcançando 432 500 dólares na Christie's em Londres - um preço recorde.
Desde então, o mercado de leilões de arte gerada por Inteligência Artificial tem sido irregular. Em 2024, já se assistiu a um renovado interesse pelos artistas de IA, com a venda em leilão de obras de Sougwen Chung, Mario Klingemann, Harold Cohen, Anna Riddler, Obvious, Claire Silver e Roope Rainisto. É provável que uma nova geração de colecionadores abra caminho para coleções de arte geradas com Inteligência Artificial. Embora apenas 2% dos colecionadores de arte tradicionais tenham comprado uma obra gerada por IA, 29% ponderam comprar uma no futuro.
7% dos jovens colecionadores já compraram arte gerada por IA
O interesse em comprar arte gerada por IA é maior entre os novos colecionadores - os que colecionam há menos de três anos - em que 7% já compraram arte gerada por IA e 39% afirmam considerar fazê-lo. Mais de um quarto dos entusiastas da arte (28%) já comprou uma obra de arte gerada por IA, tendo 52% afirmado que talvez o fizessem. É provável que isto se deva à popularidade dos modelos de IA que geram imagens a partir de prompts, como Stable Diffusion, Midjourney e DALL-E, bem como a um número crescente de sítios Web e artistas que vendem arte gerada por IA - quer como obra de arte física, quer como NFT. Os colecionadores experientes são cépticos em relação à arte gerada por IA, mas novos colecionadores e entusiastas de arte vêem valor.
Apenas 16% dos colecionadores de arte acredita que a arte gerada por IA pode atingir os mesmos preços que a arte tradicional criada por humanos, enquanto 26% dos novos compradores de arte e 56% dos entusiastas de arte pensam que sim. A maioria dos colecionadores considera a arte gerada por IA inferior à arte feita pelo homem.
Uma grande maioria dos colecionadores de arte mais velhos (69%) e dos mais jovens (67%) considera a arte gerada por IA menos importante do que a criatividade humana. No entanto, apenas 44% dos novos colecionadores dizem o mesmo, com 26% a classificarem a arte gerada por IA como tendo a mesma importância que os meios tradicionais como a pintura, a escultura e a fotografia. Os colecionadores experientes estão céticos quanto ao potencial da arte gerada por IA, com apenas 16% a acreditar que alguma vez atingirá o mesmo preço que a arte criada por humanos. Mas os entusiastas da arte são mais otimistas, com mais de metade (56%) a considerar que se tornará tão valiosa como a arte feita por humanos. Estas conclusões evidenciam um reconhecimento crescente da arte gerada por IA como meio artístico, com mais peças a serem vendidas nos últimos três anos, tanto no mercado tradicional de leilões como em mercados NFT, como o OpenSea.
O estudo feito pela Hiscox conclui ainda que existem obstáculos fundamentais ao desenvolvimento de um mercado de arte gerado por IA. A maioria dos colecionadores de arte (61%) preocupa-se com a autenticidade e originalidade da arte gerada por IA, enquanto a falta de ligação emocional (a ausência de mão humana na criação da obra) foi outra preocupação fundamental que os impediu de comprar, para 60% do universo estudado. As preocupações éticas também pesam sobre eles, com 42% dos colecionadores de arte a dizerem que receiam o impacto que a IA terá, particularmente na criatividade humana.
Quase metade (45%) dos colecionadores de arte estão preocupados com a possibilidade de serem apanhados numa bolha especulativa quando se trata de arte gerada por IA, como o boom do NFT, que atingiu o pico em 2021-22. Outra conclusão clara é que tanto os colecionadores de arte (82%), como os entusiastas da arte (76%) querem distinguir a arte gerada por IA das obras criadas por humanos.
Desde a criação das primeiras obras geradas por Inteligência Artificial, em 2016, tem-se assistido a um envolvimento crescente por parte dos museus relativamente a obras de arte geradas por IA, com mais exposições, aquisições e programas educativos que analisam a intersecção entre a tecnologia e a arte. Em 2019, o Barbican Centre, em Londres, apresentou a exposição “AI: More than Human”, que explora os desenvolvimentos criativos e científicos da IA. Em 2024, exposições em todo o mundo de artistas que trabalham com IA incluem Harold Cohen no Whitney Museum of American Art em Nova Iorque, Ian Cheng na Fundação Beyeler em Basileia, Vera Molnár no Centre Pompidou em Paris e Refik Anadol na Serpentine Gallery de Londres.
O boom nas vendas de arte gerada por IA coincidiu com o boom do NFT em 2021-22, mas o interesse continuou apesar do colapso do mercado NFT, e as vendas em leilão de IA e arte generativa atingiram um novo pico em 2023. Há também sinais de que os colecionadores de NFT estão à procura de mais sofisticação, propósito e conteúdo. Isso é visto no sucesso do Winds of Yawanawa, lançado em julho de 2023, que viu o artista de media Refik Anadol colaborar com a comunidade indígena brasileira Yawanawa. As receitas da venda de 1000 pinturas de dados únicas ajudaram a salvaguardar a cultura Yawanawa, que registou um total de vendas de 31,8 milhões de dólares até 1 de agosto de 2024. Assim, é também previsível que os seguros em arte gerada por inteligência artificial venham a aumentar, e que a Hiscox veja esse seu segmento aumentar.
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